fatum betula (24-07-20)

eu não costumo jogar jogos que se dizem ser de "horror", mas esse eu tive de experimentar porque achei a estética linda, e o nome chamou a minha atenção.

o começo do jogo é a melhor parte, apesar de existirem outros momentos marcantes. eu gosto de como existem poucas áreas e cada uma delas se destaca por um motivo diferente. eu gosto como o jogo é bem confuso quanto ao seu objetivo. eu não gosto de como ele se torna repetitivo, depois que você 'entende' o que tem de fazer. em particular, não gosto de como ele lida com a ideia de múltiplos finais (me questiono se eu gosto da ideia de multiplos finais em si).

recomendadíssimo


a short hike (10-07-20)

eu achava que o jogo ia ser uma coisa e ele foi exatamente isso. a única coisa que me surpreendeu foram os gráficos: o jogo é muito muito bonito.


presentable liberty (01-07-20)

a primeira vez que joguei presentable liberty foi em 2015, e na época ele me marcou bastante. aos poucos fui esquecendo do que o jogo se tratava - mas sempre fiquei com a impressão de que era um jogo especial, de que ele era inigualado em passar um sentimento de solidão, monotonia, impotência. eu sempre quis re-jogar mas ficava adiando.

depois de 5 anos, ontem acabei rejogando. me pareceu um jogo completamente diferente do que eu lembrava: mais depressivo, mais real. dois motivos. o primeiro motivo é profético: no jogo você é um prisioneiro que não pode sair da sua cela por conta de um vírus mortal que ataca a cidade. acho que todo mundo consegue empatizar com isso de forma diferente, agora. o segundo motivo é autobiográfico: o jogo comenta amplamente sobre depressão, e o desenvolvedor do jogo cometeu suicídio há alguns anos atrás.

eu acho o fluxo do jogo extremamente engenhoso. basicamente: você está preso em uma cela, e de tempos em tempos recebe cartas. só isso. é simples mas poderoso: partindo dessa ideia, ele consegue passar um monte de sentimentos interessantes: a frustração quando a carta não vem no horário marcado. a alegria de receber um jogo novo, apenas pra perceber que ele é tão idiota quanto todos os outros. a curiosidade de não saber como as coisas vão terminar. um pouco de existencialismo, talvez.

o final me bateu forte dessa vez. ao longo do jogo, você vai recebendo diversos objetos que vão populando a sua cela. no fim do jogo, ela está lotada de coisas - uma cama, uma mesa, pôsteres. e aí você percebe que não é uma cela: você é uma pessoa trancada num quarto, jogando videogames e esperando o tempo passar. quem nunca?


crypt worlds (13-06-20)

é impressionante como ele consegue fazer você se sentir desconfortável em uma estrutura extremamente familiar. é como visitar a sua casa em um sonho mas ela está totalmente diferente e irreconhecível, só que ao contrário. todas as peças estão lá, mas tem alguma coisa muito errada. você aperta botões e faz coisas e anda e completa quests mas o botão direito faz xixi e você planta ossos e faz xixi em cima deles? lista de coisas que gosto:

- como o mundo parece vivo, apesar de grande parte dos personagens serem fotos em jpg. o avanço da dimensão temporal contribui bastante pra esse sentimento
- como o jogo te força a re-explorar os mesmos ambientes, procurando coisas novas neles, re-interpretando. voce se sente próximo daqueles ambientes. é um jogo sobre espaços
- como quando você finalmente sente que dominou aquele universo, ele troca tudo por cowboys
- a capacidade arquitetonica dos ambientes de parecerem diferentes entre si, mesmo praticamente só tendo linhas retas e cliparts em baixíssima resolução
- processos ocultos dos quais você depende mas não entende: quando a bruxa vai aparecer? será que eu já poderia ter encontrado outra relic, ou tenho que esperar o tempo passar? eu me senti muito vulneravel
- a evidente paixão por msiterios e segredos (acho que o mewl é o melhor exemplo)
- como o único caminho "claro" no jogo se revela ser um bad ending (dark souls much?)

recomendadíssimo se vc tiver uma mente aberta. and tips their hat


democratic socialism simulator (12-06-20)

imperialismo norteamericano: eu sei detalhes específicos da política interna dos estados unidos (lobbying, redlining, confederate flag, escândalos de blackface), mas não consigo apontar pernambuco num mapa. vergonhoso.


captain macaw (10-06-20)

um jogo convencional embrulhado num pacote charmoso. passei 15 minutos sem ter a minima ideia de como progredir, e foi maravilhoso. além disso, é um bom exemplo de como bugs aleatórios podem elevar a qualidade de uma experiência. recomendo caso esteja de graça


a mortician's tale (07-06-20)

o começo é entediante, mas melhora depois do tutorial. a maior virtude do jogo é o seu caráter quase educativo - eu não sabia absolutamente nada sobre serviços funerarios e sinto que aprendi bastante coisa (tomara que seja tudo verdade). teve vários momentos em que eu parei e pensei: "nao, pera, isso é real?". demorei +- 1h pra zerar. não recomendo full price, mas vale a pena se tiver em mãos


citizenfour (05-06-20)

parece meio absurdo que esse filme exista, que eventos históricos tenham sido filmadas profissionalmente enquanto aconteciam. esse aspecto é bem interessante. mas eu não sei pra quem é esse filme. por um lado, o filme não contextualiza o espectador o suficiente pra que ele possa aproveitar 100% dos eventos apresentados. por outro lado, o filme não apresenta nada que vá surpreender alguém que sabe mais ou menos o que aconteceu. o filme acaba sendo mais um material complementar do que qualquer coisa, um insight sobre a persona do snowden (mas tb nao sinto que ele se aprofunda o suficiente nisso). acho que a unica coisa que eu aprendi é que o glenn greenwald tem um monte de cachorros


missing. (04-06-20)

eu tenho lido um pouco sobre a história dos estados unidos enquanto império (how to hide an empire), e acabei sendo atraído pra esse filme depois de ler a sinopse. o filme é sobre um pai e uma esposa (americanos) que vão para um país na américa latina tentar desvendar o desaparecimento de charles hornam, um americano que vivia por lá.

o pai e a esposa passam boa parte do filme simplesmente andando de um lado pro outro, procurando o rapaz nas ruas, necrotérios e prisões, enquanto descobrem também a provável razão pela qual ele desapareceu: ele estava tentando obter provas de que os estados unidos esteve envolvido no golpe militar que o país tinha recém passado.

o desenvolvimento psicológico principal do filme é o pai tendo de enfrentar suas pré-concepções sobre o governo americano, e sobre o anti-imperialismo de seu filho. cenas como essa são constantes ao longo do filme - o pai visivelmente desconfortável com a violência generalizada (toques de recolher, pelotões de fuzilamento, assassinato indiscriminado em plena luz do dia), e gradualmente percebendo que os estados unidos - os cavalheiros tão gentis e educados que tem lhe tratado tão bem - não só apoiou esse tipo de ação, como permitiu inclusive o assassinato de seu filho.

tem uma cena, logo depois que o pai chega no país, em que ele está sentado numa reunião com embaixadores e cônsules dos estados unidos no chile, e diversos sons de metralhadora tocam na rua. o pai salta na cadeira e fica visivelmente incomodado.

"you think someone needs to have done something wrong to be arrested." "isn't that how it works?" "not here."

o filme, nesse quesito, se apresenta como uma história de perda da inocência, no qual os papéis parecem curiosamente invertidos - a esposa, beth, é quem desempenha o papel de "knew it all along" para o inocente empresário de 60 anos.

eu achei a representação da violência extremamente adequada. as cenas em que tiroteios surgem casualmente ao fundo é desconfortavelmente similar das minhas próprias experiências vivendo no rio de janeiro. não enxergo nenhuma tentativa de fazer as coisas parecerem mais bonitas do que realmente foram, ou mais feias. o filme parece extremamente realista.

o que me incomoda, de certa forma, é que é um filme primariamente sobre americanos. os mocinhos são americanos, os vilões são americanos, e os chilenos estão lá só como um pano de fundo para a história inteira. alguns deles ajudam e outros atrapalham, é claro, mas em geral eles são irrelevantes. em um ponto do filme alguém diz para o pai: "you only care about this country because your son disappeared here. if that didn't happen, you would ignore all of this, and would be complacent sitting there in your new york office". e é verdade. não só para o pai, mas para o próprio filme - esse filme não existiria se não fosse um americano que tivesse desaparecido.

apesar de criticar os americanos, o filme nem reconhece os latino americanos, como se os americanos fossem os únicos responsáveis por aquilo tudo. é tudo muito estranho. pense em uma esposa que acaba de bater num cachorro. o marido grita "você bateu no cachorro!" e a esposa grita "sim, e daí?" e o marido responde: "típico! você não liga pros outros! você é irritante!". ô ponto da discussão deixa de ser o cachorro, e passa a ser o relacionamento entre os dois. ninguém liga pro cachorro. poderia ser literalmente qualquer outra coisa - o cachorro foi só o ponto de partida da discussão.

eu gostei do filme. mas ele me deixa um pouco desconfortável. é como estar trancado no seu quarto e ouvir seus pais brigando na sala sobre você, mas você foi deixado de fora da discussão. que bom que sua mãe está te defendendo, mas você preferiria ser um adulto e estar se defendendo sozinho.