reflexões curtas sobre os livros que eu li em 2022, em ordem razoavelmente cronológica. como tudo na vida, 90% é meio "meh", então eu destaquei os que mais me impactaram.
em 2022 eu li bem menos do que nos últimos dois anos - praticamente metade da minha média anual. eu não diria que foi porque saímos da pandemia (a explicação mais óbvia), mas sim porque na metade do ano eu me mudei pra outro país, e nos meses que se sucederam, eu tive muito pouco tempo em que eu podia sentar tranquilo e ler um bom livro. agora que eu me assentei o ritmo de leitura já tá normalizando, mas é, essa é a razão pela qual 2022 foi um ano meio fora do comum! mas olha pelo outro lado: eu li one piece. isso deveria contar por uns 10 livros
se tem algum livro que você acha que eu gostaria, ou se você seguiu alguma recomendação minha e se arrependeu, ou se você simplesmente acha que gostaria de conversar comigo - por favor, me mande um e-mail!! eu adoro receber mensagens e conversar com pessoas!! em grande parte, eu escrevo coisas pra conhecer pessoas, então seu contato será bem-vindo :)
esse livro, assim como muitos dos que vem logo em seguida, chegaram até mim por meio da página de recomendações do devine do coletivo hundredrabbits.
morning of the magicians é um daqueles livros que faz um tour por toda a história da humanidade traçando paralelos com fatos esotéricos desconhecidos, enquanto explica como tudo está conectado de alguma forma. tem alquimia. tem alienígenas. tem atlântida. tem tudo que você pode imaginar, e MAIS. é uma mistura gostosa de fatos e ficção escrita por um cara alucinado que tinha muita confiança no que estava falando, e cada vez falava mais alto e mais rápido.
é verdade? não, mas eu gostei. ler "Eram os deuses astronautas?" aos 12 anos de idade me tornou nesse tipo de pessoa
"It is possible, in many cases, to retrace the transition from magical imitation to scientific technology. Here is an example: An ancient method of hardening steel practiced in the Near East was to plunge a red-hot blade into the body of a prisoner. This is a typical act of magic: the object being to transfer the adversary's warlike qualities to the sword. This practice was known to the Crusaders in the West, who had noticed that Damascus steel was in fact harder than European steel. As an experiment, steel was dipped into water in which animal skins had been immersed. The same result was obtained. In the nineteenth century it was discovered that these results were due to the presence of organic nitrogen. In the twentieth century, when the problem of liquefying gases had been solved, the method was perfected by immersing steel in liquid nitrogen at a low temperature. In this form nitration has been adopted in our technology. Another connection between magic and technology can be found in the "charms" which the old alchemists used to pronounce while engaged in their work. This was probably a method of measuring time in the darkness of the laboratory. Photographers often recite regular incantations while developing their film, and we have heard one of these being recited at the top of the Jungfrau while a film that had been exposed to cosmic rays was being developed. "
nos EUA de 1970, uma gangue de pessoas singulares se une pra praticar ecoterrorismo. cada um tem uma especialidade, igual nos filmes de heist: o cérebro; o músculo; a lábia; a mulher. seu objetivo final? explodir uma represa que impede um lindo rio de fluir.
a sinopse é ótima mas eu achei chato!
o kindle diz que eu li ele inteiro, mas eu não me lembro de absolutamente nada desse livro
é um livro sobre inteligência artificial e o seu papel no mundo de hoje em dia, escrita por uma das pessoas que eu mais respeito na área. é bem agradável de se ler, mas surpreendendo absolutamente ninguém, eu não aprendi nada! recomendaria pra alguém que não sabe nada de IA mas quer se meter na área.
muito bom, MUITO bom. é um daqueles livros de ficção científica que a primeira página é tipo "fazia um dia lindo na terra dos blorg, vários fuggles massageavam seus blorgles e blingle blangle blongle zuuup". depois de 10 páginas das quais eu entendi aproximadamente 30% do que estava acontecendo, eu cheguei a quase desistir, mas Deus botou a mão no meu ombro e disse: "continue meu filho". aos poucos você vai pegando os conceitos e um novo mundo vai se abrindo - se você remotamente se interessa por alienígenas e filosofia da linguagem, leia esse livro. eu genuinamente sinto como se Arrival fosse uma gateway drug pra Embassytown. como que isso não é um clássico? COMO!. pau a pau com Anathem. esse é o melhor livro que eu li esse ano não é possível eu AMO esse livro
eu gostei da estrutura do livro. eu gostei dos textos em segunda pessoa. eu gostei da discussão levantada sobre a não-importância da verdade na literatura (depois de 2000 anos, realmente importa se sócrates existiu?). mas no fim das contas, eu não saí daqui com muito amor -- eu gostei da ideia do livro mais do que eu gostei do livro em si. acontece!
o livro tem muitas ideias, e eu gosto de uma boa quantidade. é Ficciones light. tenho certeza que vou reler ele durante um bom tempo.
informação: num belo dia, aleatoriamente decidi folhear o livro e li uma página. no dia seguinte, acordei com a ideia do que eu acho que foi uma das melhores coisas que eu fiz em 2022. coincidência?? eu acho que não!
é um livro sobre atenção no mundo atual, escrito por um cara que escreve de forma extremamente digressiva e aburrida. diversos pontos separados me marcaram: o deep-dive na indústria de gambling americana; a anedota da música ambiente na academia; as entrevistas com as pessoas que constroem/reparam órgãos de igreja. infelizmente, o que não me marcou foi o ponto central do livro - como meu pai diria: "falou, falou e não falou nada"
eu não lembro porque eu fui ler esse livro, mas eu gostei. não aprendi quase nada de novo, mas o livro é só muito bem explicadinho e condensa em algumas páginas um monte de coisa que eu demorei um caralhão de tempo pra entender. algumas das analogias são muito boas:
"In 3D, the following mental image may prove useful. Imagine two sheets of colored paper: one red and one blue. Put one on top of the other. Now crumple them together into a small ball. That crumpled paper ball is your input data, and each sheet of paper is a class of data in a classification problem. What a neural network (or any other machine-learning model) is meant to do is figure out a transformation of the paper ball that would uncrumple it, so as to make the two classes cleanly separable again. With deep learning, this would be implemented as a series of simple transformations of the 3D space, such as those you could apply on the paper ball with your fingers, one movement at a time."
não terminei de ler, mas gostei o suficiente e sei que vou voltar.
You are in line. Look around. Look bored. Few talk in the line. Everyone seems by himself. Most look at the ladder, look bored. You almost all have crossed arms, chilled by a late dry rising wind on the constellations of blue-clean chlorine beads that cover your backs and shoulders. It seems impossible that everybody could really be this bored.
comecei a ler por recomendação do devine (ler acima) e porque no The Sims tinha um código pra ganhar dinheiro que chamava "klapaucius", e aparentemente esse é o nome de um dos personagens desse livro!
antes de ler esse livro, eu conhecia o Stanislaw Lem por "Solaris", mais conhecido por mim como "o livro que serviu de base praquele filme do Tarkovsky no qual eu dormi duas ou mais vezes enquanto assistia". em outras palavras: um autor de ficção científica, sim, mas um autor Sério, um autor Que Tem Temas Fortes e Que Usa Subtexto. quem eu encontrei aqui foi uma outra pessoa completamente diferente: "A Ciberíada" está mais próximo de um fábulas de esopo + guia do mochileiro do que de algo remotamente circunspecto. eu gostei!! muitíssimo!!! é bem divertido e engraçado, uma leitura gostosa com várias boas ideias.
é impressionante como algumas coisas são prescientes, o cara era um visionário mesmo. por exemplo, se você está dentro do zeitgeist do chatGPT, eu recomendo que leia imediatamente o capítulo Trurl's Electronic Bard e tenha sua mente explodida por algo que foi escrito em MIL NOVECENTOS E SESSENTA E CINCO
Trurl decided to silence him once and for all by building a machine that could write poetry. First Trurl collected eight hundred and twenty tons of books on cybernetics and twelve thousand tons of the finest poetry, then sat down to read it all. Whenever he felt he just couldn't take another chart or equation, he would switch over to verse, and vice versa. After a while it became clear to him that the construction of the machine itself was child's play in comparison with the writing of the program. The program found in the head of an average poet, after all, was written by the poet's civilization, and that civilization was in turn programmed by the civilization that preceded it, and so on to the very Dawn of Time, when those bits of information that concerned the poet-to-be were still swirling about in the primordial chaos of the cosmic deep. Hence in order to program a poetry machine, one would first have to repeat the entire Universe from the beginning—or at least a good piece of it. [...]
satin island é sobre um antropólogo chamado U. que é contratado por uma grande Empresa para trabalhar no grandioso Projeto Koob-Sassen. esse projeto - como muitos dos detalhes referentes à Empresa - é descrito de forma extremamente vaga, mas o objetivo declarado é "reestruturar as narrativas do mundo sem que ninguém perceba". se isso não parece complicado o suficiente, o CEO da Empresa delega a U. uma missão especial: escrever o Grande Relatório, um livro que irá "explicar e resumir toda a nossa era".
eu gostei, o livro tem uma vibe boa. é tipo estar preso dentro da cabeça de alguém entediado e criativo. é curto, eu recomendaria pra qualquer um que tivesse o mínimo de interesse na sinopse acima.
"I spent my twenties wanting to be Lévi-Strauss—which is ironic, since he spent most of his life wanting to be somebody or something else: a philosopher, say, or novelist, or poet."
abandonei por motivos da vida. vou voltar a ler no futuro. é bom.
I decided to join Svetlana’s tae kwon do class. First we ran around in circles barefoot. I had forgotten about my ankles and feet. The studio had a glass wall overlooking the pool, where a scuba lesson was in session. How did all those people know that they wanted to know how to scuba dive?
A boy with a green belt stood with me in a corner and demonstrated the first “form”: a series of dancelike motions that supposedly defended you against some theoretical assailant. I didn’t understand how a dance like that could defend you, unless the attacker also knew the dance, but in that case why would he be using it to attack you?
não falou nada que eu já não soubesse, mas falou bonito. o homem engraçadinho falou bonito
When Graham Chapman and I started writing together we would get terribly frustrated and despairing when we hit a fallow period—sometimes a whole morning or even a day when we produced nothing really good. But then we noticed that, despite this, we had a consistent average: every week we wrote about fifteen to eighteen minutes of good stuff. All we had to do was to sit there, whether it flowed or it didn’t, and by Friday evening we would have enough. We came to understand that the blockages weren’t an interruption in the process, they were part of it. For example, when you eat, the bit where the fork returns empty to your plate isn’t a failure. It’s just part of the eating process.
abandonei por motivos da vida. vou voltar a ler no futuro. é bom. 2
como preparação pra minha mudança à Espanha, decidi que ia começar a ler livros em espanhol. procurando na internet, vi que um livro em específico aparecia em muitas recomendações - "La sombra del viento", um livro de mistério que se passa numa Barcelona pós-guerra, "entre névoas e esquinas". entendi isso como um sinal de Deus para eu baixar o livro ilegalmente e lê-lo assim que possível. foi o que eu fiz.
o livro é muito bom!! eu não tive problema em entender nada, e fiquei completamente "enganchado" na história, como os espanhóis diriam. é um mistério muito foda e muito bem contado, muito gótico e muito catalão. teve uma hora que dali pra frente eu não conseguia parar de ler - era esperar o próximo momento livre pra continuar a leitura o mais rápido possível. muito bom!!! recomendo!!!
— Y a mí esa mujer me gusta más que el melocotón en almíbar. Con decirle que soy capaz de pasar por una iglesia después de treinta y dos años de abstinencia clerical y recitar los salmos de san Serafín o lo que haga falta por ella.
— Le veo muy lanzado, Fermín. Si apenas acaba de conocerla...
—Mire, Daniel, a mi edad o uno empieza a ver la jugada con claridad o está bien jodido. Esta vida vale la pena vivirla por tres o cuatro cosas, y lo demás es abono para el campo.
é um livro extremamente horny que não é sobre ser horny, é sobre ser um poeta no méxico nos anos 50, na verdade é sobre ser um fudido sem perspectiva de vida tentando se descobrir no mundo, na verdade é sobre ser um poeta mesmo, ou melhor dizendo, é sobre ser horny. eu li metade desse livro (tenha em conta que o livro é grande), e decidi parar, porque não estava se mostrando ser exatamente o meu tipo de leitura
If you come fifteen times in four hours, in four and a half hours you should come eighteen times, not ten. The same ratio goes for me. Are we already in a rut?
um belo dia eu estava pegando um ônibus ouvindo rádio quando de repente começam a entrevistar um autor que acabava de lançar um livro chamado "Todo Arde". o cara era super engraçado e parecia muito gente fina, então aquilo ficou na minha cabeça e quando cheguei em casa, decidi buscar pelo livro. de fato, o nome estava certo e o livro existia, então eu entendi isso como um sinal de Deus pra eu baixar o livro ilegalmente e lê-lo assim que possível. foi o que eu fiz.
eu não consegui chegar em 1/3. é tipo dan brown só que sem mistério. é só gente nervosa andando de um lado pro outro em capítulos curtos que sempre terminam com cliffhanger.
é o rei né?
eu não esperava nada e encontrei uma das histórias mais bem arquitetadas e tematicamente consistentes que já li. que one piece exista é por si só um absurdo, e eu espero estar lá pra ver terminar (apesar do Arthur já ter spoilado o final da série!!!!). muito bom. não me arrependo de nada, e sim, mesmo sendo tão grande vale a pena